De maneira alguma ele havia pensado que ela faria tanta falta. Afinal, ela povoava seus sonhos. Ele sabia que ela era real, mas não pretendia encontrá-la tão cedo.Tudo que eles haviam feito juntos havia acontecido em seus sonhos. Eles combinavam de se encontrar, conversavam. Faziam tudo; mas sonhando. Quando acordavam, as informações mais importantes eram esquecidas, e ele só lembrava dela, de seu cheiro, de sua presença. Porém, ele sabia que no dia seguinte, ela voltaria.
Da última vez, eles chegaram até a trocar endereços, e ele não sabia de algo. Ela conseguiu anotar seu endereço. Mas isso a fez deixá-lo. E então, sem ela, ele acordou.
Eram quase três da manhã, e ele lamentava ter perdido o fim da noite de domingo que passaria com ela. Mas ele percebeu que conseguia se lembrar dos sonhos. Lembrava-se de escadas, que deviam ser da casa dela. Lembrava do toque de sua mão conduzindo-o escada acima e parando em uma porta, na qual ela entrou, trancou, e o deixou para fora. Ele batia, fazia de tudo para abrir, mas foi aí que ela se foi, e ele acordou.
Ela escreveu uma carta, e enviou para ele, torcendo para que o endereço estivesse certo. E então, ela seguiu seu caminho, na Alemanha.
Ele morava longe, e a carta demorou um mês para chegar. O problema é que, nesse um mês, ela não apareceu nem uma vez. Ele estava ficando amedrontado. Toda vez que sonhava tentava chegar perto de onde ela morava, e quando conseguia, perguntava aos vizinhos se sabiam de algo. Era inútil, pois todos respondiam a mesma coisa: não.
Isso começou a deixá-lo perturbado, e ele começou a andar por sua cidade, procurando-a. E então, um pouco depois, ele se foi. Ele estava de viagem marcada, e não chegou a receber a carta.
De intercâmbio, em um colégio interno, ele começou a assemelhar a paisagem que havia visto em seus sonhos com à que via. É isso, pensou ele, vou conhecê-la! Perguntou aos diretores do colégio, e eles responderam que fazia um mês que eles não tinham notícias dela. Ele ficou triste, e então, seu intercâmbio acabou. Durara somente um mês.
E quando chegou em casa, viu sua carta jogada na porta. Vinha da Alemanha, como ele pensara.
Antes de tudo, me perdoe - dizia a carta
Eu queria muito ter voltado a te ver. Mas não pude. Começei a pensar que seria inútil continuarmos com isso, pois nunca nos veríamos, de qualquer forma. Não, o endereço da carta não está errado, eu realmente moro na Alemanha, ou morava. Enfim, não quero enrolar mais. Provavelmente, se eu bem conheço a agilidade do sistema de correios daqui, à esta altura já estou morta. Não quero que se prenda à mim. Mas acho que você merece uma explicação. Sou complicada. Um dia, estava pensando em encontrar o amor da minha vida, e entrei em seu sonho. Desde então, sempre faço isso. Mas não poderia durar para sempre. Então, isso começou a me desgastar, e eu adoeci. Perdão. Nunca quis te magoar.
Com todo o amor do mundo,
Anne
E então, ele saiu de casa, e foi até a chuva. Enquanto esta o molhava, seus olhos começaram a pingar. Foi então que ele pensou ter sentido a mão dela em seus cabelos, como sentia em seus sonhos.
Fim
Texto para: Projeto Creativité, 2ª edição Musical
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